21.10.04

esse?

Deita, amor, na minha harmonia
Rola mexe vira e me ensina a ser gente inteira
Gente com todas as partes
Tudo certo no lugar
Me ajuda a achar o erro e me ajuda a consertar

Deixa eu ser sua parceira
Sua mulher de verso e prosa
Sua rima
Sua rosa
Seu mistério indevassável
Deixa eu sambar na sua voz
E gritar no seu prazer

Quero ser sua mulher-filme
Mulher toda feita pra ver
E quero ser de verdade
Passar roupa pra você
Parir cada um dos seus filhos
Chupetas poemas canções
Te amar nas noites de medo
E na febre das manhãs

Me olha com seu desejo
Eu visto a sua fantasia
Mas olha sem querer nada
Olho limpo de enxergar

Quem eu sou já vale a pena
Vida é sempre melhor que poema
E a minha versão carne e osso
Bate de longe o cinema do seu sonho

A música que eu posso ser
Só você sabe cantar
E a melhor das minhas palavras
Não vale o calor da sua nuca

(a harmonia que conta é a que não se pode tocar)

8.10.04

fluxo

O temor tem morte dentro
É ele que paralisa

tudo impávido colosso
tudo cabide no armário
tudo certo tudo morno
chão de bolas de cristal

Lá fora um sofá puído
esse desejo rouco
uma história moribunda
a beleza oficial.
E no corpo já sem fogueira brilha o fosfóro azul do amor mais confortável.

O temor enforca os dias
meses anos de desertos.
Tudo urge e tudo cala
e o mundo cabe na mala que eu morro de medo de te entregar.

1.10.04

como Manoel de Barros

Pedro, 8 anos, meu primo mais fofo e figura rara, resolveu fazer anotações sobre um dia na sua vida. O resultado foi um quase poema à la Manoel de Barros, que eu reporto aqui com todos os equívocos ortográficos que só fazem ele ficar mais genial.

Meu dia

Loja ao contralho, vento bom, marimbondo perto, cachorro.
Bala rasgada, dei lápis, água nogenta, nenem chega, sapato da sandy.
Vi camera, que fedor, minina abriu quecho.
Cade a mulher doida, pedra pichada, garota dorme, garoto chega.
Briga na hiscola, broca da professora, não bebi agua.

Saida

Saindo todo mundo
Meu amigo vai comigo.